Como se relacionam a Educação e o Meio Ambiente? Para tentarmos responder tal pergunta se faz necessário buscar responder uma outra: o que é educação ambiental (EA)? Faço essa pergunta nos processos educadores que conduzo, pedindo para que as pessoas respondam com apenas uma palavra e as respostas são as mais diversas. Educação Ambiental é “sensibilização”, “conscientização”, “contato com a natureza”, “respeito”, “mudança”, “atividade na floresta”, “criticidade”, “emancipação” e por aí vai. Essas respostas ilustram o que diversos autores(as) da EA já afirmaram: a existência de uma diversidade de maneiras de entender e praticar os processos de educação ambiental.
Neste texto quero compartilhar com você leitor(a) uma das possíveis formas de entender a Educação Ambiental, aquela com a qual me identifico e acredito ser um caminho interessante para promover as transformações da sociedade e do mundo tão desejadas por muitos de nós.
Quando penso nos diversos problemas ambientais (desmatamento, desertificação, poluição, mudanças climáticas etc.) entendo-os como sinais de que algo não vai muito bem na nossa forma de se relacionar com outros seres humanos, com os animais, com as plantas, com os mares e rios, com os solos, com o ar, enfim, com o planeta como um todo.
Os valores que predominam em nossas relações, como o individualismo, a competição, a busca incessante pelo lucro e o desejo exagerado pelo consumo contribuem para que nossas relações tenham características muito particulares. Nos isolamos uns dos outros, vivemos uma vida apressada, trabalhamos muitas horas por dia e temos poucas horas para o lazer, só para citar algumas. Fazemos tudo isso buscando conquistar a promessa de uma vida segurança e feliz. Mas será que estamos conseguindo? Será que esse caminho que viemos trilhando pode realmente nos levar a uma vida boa de se viver?
Essas questões, se trabalhadas num processo educador, permitem aos envolvidos realizarem o exercício de reflexão olhando para si próprio e para nossas relações. O exercício de mergulho em si próprio nos auxilia a identificar como nossa visão de mundo foi construída ao longo de nossas vidas, com quem e quais valores adotamos para guiar nossos pensamentos e ações. O exercício de olhar para nossas relações nos permite pensar sobre nossa cultura, tentando entender como foi construída ao longo da história da humanidade, identificando os interesses e os conflitos, os grupos que vem se beneficiando e os que vem se prejudicando com a forma de organização social adotada. Esse exercício nos permite perceber que nossa forma de pensar e agir está ligada a valores culturais construídos historicamente. E que por ser uma construção humana podemos desconstrui-la para construir algo novo.
E como as questões ambientais podem contribuir para esse movimento de desconstrução e construção? A partir dos problemas ambientais podemos, por meio da educação, entender e relacionar as diferentes dimensões da nossa vida: social, econômica, cultural, religiosa, ecológica e outras. Para exemplificar vamos imaginar a poluição de rios e mares por resíduos sólidos. Ao ver um
desses ambientes cobertos por diversos resíduos muitas podem ser as reações de um grupo de pessoas: indignação, tristeza, urgência por uma solução, indiferença, descaso, impotência etc.
A partir disso, é possível estimular reflexões em diferentes direções: por que há tanto resíduo nesse ambiente? De onde vieram? Quais suas características? Por que não há coleta e destinação adequada? Quais as políticas públicas que lidam com esse problema e o que dizem? Por que consumimos da maneira que consumimos? Como o consumo está ligado ao status social? Quando e como começou essa cultura do consumo desenfreado? Como nós podemos lidar com esse problema? Será que estamos reforçando o problema de alguma forma, sem perceber? Será que nossas ações, cheias de boas intenções em prol da solução do problema, estão, na verdade, contribuindo para sua manutenção?
Essas são apenas algumas das várias reflexões possíveis que podemos fazer a partir do problema da poluição por resíduos sólidos e que nos auxiliam a exercitar o olhar para si e para o outro, integrando e articulando políticas públicas, valores culturais, relações socioeconômicas, história e comportamentos individuais, por exemplo.
Uma educação ambiental que estimule tal forma de questionamento nas pessoas pode nos conduzir para uma sociedade diferente da que temos hoje, uma sociedade que agregue as diferenças, que valorize a colaboração, o bem comum e a coletividade e que respeite todas as formas de vida.
Encerro esse pequeno texto com a esperança de que juntos possamos construir processos educadores desse tipo e, assim, auxiliar no processo de transformação de nós mesmos.
Autor: Rafael de Araujo Arosa Monteiro Mestre e Doutorando em Ciência Ambiental pela USP Gestor Ambiental e Especialista em Educação Ambiental para a Sustentabilidade