Muitos imaginam, como eu mesma achava, que no período da pandemia o meio ambiente estava revivendo e se restaurando pela diminuição das atividades industriais e do uso contido de bens de consumo. Essa ideia também ficou um pouco alimentada, porque passaram a aparecer nos mares e em algumas cidades próximas de áreas verdes alguns animais, que julgava-se sumidos das aparições nas costas oceânicas e nas áreas urbanas.
Na verdade isso se refere somente a uma ilusão, pois a devastação de áreas verdes, em especial na Amazônia, vem sofrendo nos últimos anos agressões de derrubada de árvores, de garimpos indiscriminados e de invasão a áreas indígenas. O próprio Ministro do Meio Ambiente deixou essa intenção bem clara na fatídica reunião ministerial do dia 22 de abril, de que aproveitaria esse período para desregulamentar atividades e fazer “passar a boiada”, como ele mesmo disse.
Pode ser que no Brasil muitos não perceberam, mas os investidores internacionais estão de olho nessas práticas, assim como o bloco do Mercosul, formado pela Argentina, Uruguai, Paraguai e o próprio Brasil. Isso ficou claro na reunião virtual ocorrida nesta semana entre representantes desses países, os quais demonstraram sua preocupação com a política ambiental brasileira nos últimos tempos, o que fez com que nosso governo tentasse minimizar os estragos.
O que se sabe é que nossa imagem ambiental não está desgastada apenas pela Cúpula do Mercosul, isso foi só o resultado do encontro recente. O que mais preocupa setores da economia é que há uma pressão internacional sobre os índices de desmatamento do tamanho de alguns países e isso viria refletir diretamente na fuga de investimentos de algumas empresas estrangeiras que se negariam a trabalhar com políticas desvirtuadas da bioeconomia. A União Europeia, composta por 28 países, e o bloco formado pela China, Estados Unidos e Argentina vêm alegando insuficiência no controle sanitário brasileiro, o que tem causado embargo de produtos antes exportados em larga escala e representando um desequilíbrio na balança comercial. Os parceiros comerciais dizem que há uma quebra de acordos firmados anteriormente, no que se refere a selos de garantia ambiental.
O primeiro semestre foi um desastre, sem considerar a crise na saúde e na educação, ambos setores sem titulares. Para salvaguardar a economia, um trabalho deveria estar sendo programado para a retomada pós-pandemia, com políticas claras e objetivas, de projetos ambientais, com protocolos de utilização de energias renováveis sustentáveis, investindo no saneamento básico, nos modelos alternativos de energia solar e eólica, assim como na melhor destinação dos resíduos sólidos sem gerar mais gases de efeito estufa na atmosfera. No caso da energia solar criar um slogan do tipo “o sol nasceu para todos” e fazer desse projeto uma linha de frente, pois os recursos para sua implementação se pagam e geram grande economia no médio e longo prazos.
Não sei se seria sonhar muito com o país enveredando por essa trilha, mesmo que não seja de imediato, mas dando os primeiros passos na direção certa de que é possível recuperar o atraso ambiental de décadas, revertendo em benefícios para a saúde, para a economia e no bem estar social.
Autora:
Eunice Tomé
Jornalista, escritora e membro da Associação Santos Lixo Zero.